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FC Flávia & Narjara

28.1.12

De Reinaldo Lourenço a Bottega Veneta, que acaba de chegar a São Paulo, todos vivem o minuto sessentinha - ressuscitando cabelos bufantes, tubinhos e escarpins de salto médio, como mostra a atriz Flávia Alessandra. A pergunta é: estamos prontas para entrar no figurino Brigitte Bardot só para estar à la mode?



 
Anos atrás, quando Diane von Furstenberg voltava para o topo da moda, fui encontrá-la para uma entrevista. Ela havia se tornado a persona que, na infância, sonhava ser. Por causa do cabelão de pantera, escuro e solto, das sandálias de saltos altíssimos e da atitude destemida nos revolucionários anos 1970, a estilista nascida na Bélgica e transformada em grife nos Estados Unidos ganhou o apelido de Mulher Maravilha. E os braceletes de corrente e anéis de ouro, cristais e pavê de diamantes eram um reflexo dessa mulher que ia dominar o mundo a bordo de sua invenção máxima, de 1973: o wrap dress. O vestido cachecoeur nasceu de uma ideia simples: juntar duas peças - a blusa transpassada com a saia A, hit da década anterior - em uma única. Na vida real, fez muito mais. Sete anos depois de Yves Saint Laurent dar força às mulheres com o smoking, DVF tinha encontrado um jeito feminino de "vestir" poder. Com o wrap, os tubinhos circa 1963 eram o fim. Nenhuma mulher consciente e adepta da pílula anticoncepcional trocaria os vestidos de jérsei de seda, sexy e à prova de rugas (porque são atemporais e não amassam) para voltar no tempo de tailleurs bouclés, tubinhos e escarpins de salto médio e bico fino. A não ser que uma geração de estilistas tentasse convencê-las do contrário.



É justamente o que está acontecendo agora. Numa evolução natural da silhueta vespa de Dior dos anos 1950, que foi referência na estação passada, Bottega Veneta, Reinaldo Lourenço, Prada, Gloria Coelho, Burberry, Jil Sander, Valentino (enfim, uma lista enorme entre Paris, Londres, Nova York, Milão e São Paulo) querem ajustar nosso calendário para a primeira metade da década de 1960. A ideia é nos vestir como uma espécie de replay moderninho de Kim Novak + Jean Shrimpton + Brigitte Bardot + Twiggy, como encarna a atriz Flávia Alessandra neste ensaio de tubinhos e escarpins. Além dessas peças-chave, sobram casacos casulo, cardigãs, redingotes de gola careca, spencers, saias tulipa, calças cigarrete e mocassins de salto alto. Como se não bastasse, laços arrematam todo tipo de peça, das bolsas Kennedy (que outro nome se não o sobrenome mais simbólico do estilo sessentinha?) by Kate Spade aos vestidos de oncinha de Giambattista Valli, passando pela tornozeleira das sandálias de Gianvito Rossi.


À primeira vista, é difícil compactuar. Primeiro, por razões de orgulho feminino. De 1963 para cá, os estilistas deram empurrões enormes para expandir o nosso closet, mudando o dress code para adequá-lo à mulher maravilha que surgiu desde então. Ela trabalha, tem filhos, sai com as amigas, vai para a academia (no caso de Flávia Alessandra, que mora no Rio, vai à praia), namora, nem sempre consegue fazer as unhas e, de tão ocupada, organiza a shopping list pautada pelas páginas da ESTILO (qual de nós, hoje em dia, tem tempo para gastar o salto procurando algo para consumir?). Dá para aceitar se vestir como uma mulher que passa o dia no cabeleireiro para fazer coques banana volumosos, tem as unhas longas e ovaladas sempre impecáveis e pintadas de rosa-flamingo e é incapaz de abrir sozinha a porta do carro? Difícil. Para usar uma gíria setentinha, mulheres prafrentex como a psicanalista carioca Regina Navarro Lins, defensora de que o cavalheirismo é uma forma de opressão masculina, e a escritora norte-americana Barbara Ehrenreich, fã de Hillary Clinton por legitimar o uso de calças pelas senadoras e subordinadas na Casa Branca e no Congresso, veem na mulher pré-smoking de Yves Saint Laurent apenas um bibelô. Nas palavras de Barbara Ehrenreich, "um objeto (per)feito para ostentar a riqueza do homem". Soa deprimente. Ponto






Mas mulheres de curiosidade feline não conseguem deixar o novo passar batido. Ao olhar de perto as coleções do inverno 2011 do Hemisfério Norte e a do verão ao sul do Equador, fica claro que os estilistas não estão pedindo para que troquemos o blazer de Stella McCartney pelo aventalzinho anônimo. Veja o caso da Bottega Veneta, talvez a coleção mais emblemática da nova tendência (por aqui e por enquanto, a novíssima loja do Shoping Iguatemi, em São Paulo, se concentrará nos acessórios. Roupas, só quando a marca italiana abrir no Iguatemi, em março, também na capital paulista). Tomas Maier, atual diretor criativo da grife italiana, tirou a perfeição das peças, optando por barras inacabadas, peças inusitadas (camiseta bouclé) e um desconcertante par de meias opacas brancas, que parece brincar com as antigas meias de seda,que serviam apenas para não deixar a pele da perna à mostra. Aqui, elas viram statement. Na Burberry, Christopher Bailey apostou na silhueta sequinha típica da cena inglesa mod - pense nos ternos da primeira fase dos Beatles e você saberá do que estou falando - e o resultado é uma profusão de looks modernos para a vida real. Na Jil Sander, Raf Simons criou uma coleção que deixa o minimalismo um pouco mais máxi ao misturar uniforme de esqui às formas arredondadas do maior costureiro do século 20, Cristóbal Balenciaga. E o verão europeu de 2012 dá continuidade a essa viagem, com Chanel e Louis Vuitton, só para citar duas grifes, promovendo a feminilidade

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